terça-feira, 22 de junho de 2010

A lesão no desportista de alta competição (4ª parte)

Nas últimas semanas falou-se bastante do caso do Nani. Tinha sido convocado para o Mundial 2010, mas uma lesão na clavícula levou a que fosse afastado da competição. À chegada a Portugal terá dito “numa semana já estou bom”, tendo vindo depois a explicar-se melhor dizendo “penso que estarei bom numa semana mas para fazer a minha vida normal do dia-a-dia, não para competir”.
A vontade de competir faz com que os atletas estejam sempre muito ansiosos com a sua recuperação e ao mínimo sinal de melhoria têm logo tendência para acharem que já estão bons. Mas quando as lesões ocorrem há que proceder correctamente para que o desportista recupere a sua forma física o melhor e mais rapidamente possível, com o mínimo de complicações secundárias à lesão e sequelas, sem recaídas ou constantes repetições da mesma lesão e de modo a que o atleta fique com o máximo de capacidades para praticar a actividade física que fazia antes da lesão.

Vejam-se algumas especificidades na recuperação das lesões nos desportistas de alta competição:
• são muito publicitadas – o tempo que a recuperação de um atleta de alta competição demora é muito falado nos jornais desportivos e televisão, levando muitas vezes pessoas que não são atletas a questionarem-se “Porque é que a recuperação do atleta demorou três meses e a minha quatro se a lesão era a mesma?”. No entanto, há que lembrar que o nome da lesão pode ser o mesmo (tendinite, rotura de ligamentos,…) mas a lesão não ocorrer exactamente nas mesmas condições, por exemplo, a gravidade da lesão não ser a mesma e a condição física não ser igual (normalmente o atleta tem uma melhor aptidão física o que facilita a recuperação), e o tipo e a intensidade dos tratamentos de Fisioterapia não ser igual (melhores condições a nível de aparelhos, mais tempo para realizar o tratamento e ter acompanhamento fisioterapêutico diariamente traduzem-se em termos de resultados). A recuperação dos atletas é também utilizada como uma forma de publicidade, é o caso de aparelhos de Fisioterapia (lembro-me de utilizarem o nome de Mantorras para publicitar um aparelho de movimentação continua passiva para tratamento no pós-cirúrgico ao joelho);
• o doping – numa situação de lesão é fácil cair na tentação de utilizar substâncias que , por exemplo, potenciem a força muscular ou que escondam a dor. A utilização destas substâncias proibidas (esteróides anabolizantes, anfetaminas, morfina, haxixe, etc) a nível do desporto é punida, afastando o atleta da competição por alguns anos ou para sempre. Para além da questão de ser eticamente reprovável, pois colocam os desportistas em situação de desigualdade, estas substâncias são nocivas para a saúde da pessoa a médio e longo prazo, comportando vários malefícios para o organismo humano (esterilidade, tumor no fígado, aumento da agressividade,…);
• as pressões – quando um atleta está lesionado fica sujeito a pressões por parte dos adeptos e dos dirigentes para regressar o mais depressa possível à competição, especialmente se for um atleta muito bom no desporto que pratica. Para além desta pressão existe ainda a vontade do desportista em regressar aos treinos e à competição, o que leva o atleta a pressionar os profissionais de saúde e o treinador para voltar, enganando-os muitas vezes ocultando a dor ou outras dificuldades que sentem.

A Fisioterapia tem um papel muito importante na boa recuperação dos desportistas de alta competição que sofrem uma lesão. O acompanhamento do atleta por parte do fisioterapeuta é essencial para que o profissional de saúde possa intervir logo no momento da lesão, promover uma boa recuperação e reabilitação, evitar complicações da lesão e que esta se torne recorrente.
Para tal o fisioterapeuta irá utilizar várias técnicas e métodos específicos da sua área, como a massagem, a mobilização, os alongamentos, a crioterapia, a hidroterapia, a electroterapia, o treino proprioceptivo, vários tipos de exercícios, entre outros, e recorrer ao uso de ortóteses (joelheira, punho elástico, cotoveleira,…) e outro tipo de materiais (bandas neuromusculares, ligaduras funcionais) para facilitar o retorno à actividade física e prevenir que ocorra de novo a mesma lesão.
O retorno à prática desportiva deve ser sempre feito com cautela e sobre supervisão e um bom trabalho de uma equipa mustidisciplinar constituída pelo treinador, pelo médico e pelo fisioterapeuta.
“Devagar se vai ao longe”, por isso é sempre preferível uma recuperação eficaz que afaste o desportista da alta competição durante dois meses do que uma recuperação que o traga de volta à prática desportiva passado um mês e que o obrigue a ter de parar por mais um mês daí a uns tempos porque voltou a sofrer de novo a mesma lesão.

A lesão no desportista de alta competição (3ª parte)

Eu tinha um professor que dizia que “a actividade física traz saúde, mas para praticar desporto é preciso ter saúde”.
Por outras palavras, praticar uma actividade física é bom para a saúde, mas para que uma pessoa consiga praticar um desporto de alta competição tem de estar em boa forma física. Para isso, o atleta não pode sofrer lesões, ou se as sofrer terá de ter uma recuperação que o deixe quase a cem por cento.

Tornar a actividade desportiva o mais segura possível está na mão dos vários intervenientes, por exemplo, do próprio desportista, do treinador, dos dirigentes desportivos, dos profissionais de saúde (médico, fisioterapeuta) e dos responsáveis pela manutenção dos equipamentos.

As lesões têm de ser prevenidas, ou seja, tudo deve ser feito para, dentro do possível, evitar que estas aconteçam, que tenham consequências mais graves do que o normal e que ocorram de forma crónica (ex: entorses consecutivas no mesmo local). Para tal há que ter em conta:
• o estado de saúde do atleta – devendo ser periodicamente submetido a uma avaliação detalhada (para detectar anomalias em que a prática de desporto seja contra-indicada, medir e pesar, avaliar força, detectar lesões numa fase precoce, etc), ter uma alimentação adequada, aprender a lidar com elevados níveis de ansiedade,…;
• o treino e a competição – a adequação à idade do atleta, à sua condição física, às características do desporto e às condições atmosféricas (no frio ter ainda mais atenção ao aquecimento realizado, evitar as horas de maior calor, chuva e neve propiciam a quedas), a realização de um bom aquecimento e bom arrefecimento, o respeito pelos períodos de descanso, a intensidade do treino e das competições, o evitar da sobrecarga de treino e competição que levem a fadiga, etc;
• o gesto técnico – o movimento que o atleta executa mais frequentemente no desporto que pratica (ex: o remate no futebol, o serviço no voleibol, o encestar no basquetebol) deve ser executado de uma forma eficiente, ou seja, obtendo o melhor resultado possível com o mínimo de esforço, e de modo a prevenir lesões, por isso, há que estudar as características do desportista, treinar a sua coordenação, ensinar-lhe como se deve mover e qual a melhor postura para o corpo, ter em atenção o número de vezes que repete esse gesto…;
• o equipamento utilizado – se é adequado ao atleta e à situação em que ele tem de o usar, por exemplo, ao tipo de desporto que vai fazer (ex: sapatilhas com pitons para o futebolista se deslocar na relva e sapatilhas com câmara de ar para o basquetebolista), ao clima, ao piso onde se desloca (sintético, alcatrão, terra batida, água), e ainda o estado de conservação do equipamento (solas gastas) e do piso (molhado, com buracos, mal nivelado, má qualidade da água);
• o papel do treinador e dirigentes – estarem informados sobre prevenção de lesões e actuação no momento em que estas ocorrem (não desvalorizarem as lesões, direccionar o atleta para profissionais de saúde), disponibilizarem material e fundos monetários (para comprar sapatilhas novas, ter material de boa qualidade e adequado, tratar correctamente dos campos, fornecer ao atleta acompanhamento de profissionais de saúde), não pressionarem os atletas para obterem resultados para além das suas capacidades (se tiveram uma lesão recente, se começaram a treinar há pouco tempo), etc;
• o acompanhamento do desportista por profissionais de saúde – para avaliarem a condição física do atleta, informarem-no sobre a melhor forma de praticar o desporto (gesto técnico, movimento corporal), aconselharem sobre a utilização de materiais que ajudem na prevenção de lesões ou na recorrência das mesmas (joelheiras, punhos elásticos, bandas neuromusculares, ligaduras funcionais), intervirem na recuperação pós-esforço, ajudarem os treinadores e dirigentes na planificação do esquema de treino e na escolha do material que é utilizado, etc.

A lesão no desportista de alta competição (2ª parte)

As lesões desportivas mais comuns são as entorses, as luxações, as fracturas, as roturas musculares e as hemorragias nasais. No entanto, há lesões que são mais habituais em determinadas modalidades desportivas do que noutras, relacionadas com as características específicas de cada desporto (ex: usa mais as mãos, corrida de velocidade, material do piso onde se anda, grande impacto do corpo no chão, desporto de contacto físico, …). Também o local que sofre a lesão varia de acordo com a actividade física que é praticada, afectando normalmente a parte do corpo que é mais utilizado para o gesto desportivo (mão, pé, ombro…), mas também as zonas que sofrem o impacto dos saltos, corrida e quedas (joelhos).
Por exemplo, nos seguintes desportos as lesões mais frequentes são:
• no andebol, várias tipos de lesões nos dedos da mão, no tornozelo (tíbio-társica) e no joelho;
• no basquetebol, as entorses no tornozelo e nos dedos da mão;
• no futebol, lesões (entorses, roturas) nos joelhos, na coxa e no tornozelo;
• na ginástica, problemas na coluna vertebral, lesões musculares e fracturas em diversas regiões do corpo;
• no hóquei em patins, feridas e contusões;
• no judo, lesões na cabeça, nas mãos e nos joelhos;
• no ténis, tendinites no cotovelo e ombro (do membro dominante);
• na natação, tendinites e bursites nos ombros e joelhos e problemas dermatológicos.

No desporto a lesão está constantemente presente, pois mesmo quando esta não acontece o atleta tem sempre na sua mente que pode acontecer, como uma ameaça que tem muitas consequências. Algumas dessas consequências são:
• ficar com limitações físicas, já para não falar da dor;
• não poder participar em competições, depois de terem gasto muito tempo e trabalho a treinar para as mesmas;
• ficar muito tempo sem praticar desporto, com o consequente afastamento da rotina de treinos e dos colegas de equipa;
• ter de desistir da carreira desportiva;
• depressão, etc.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A lesão no desportista de alta competição (1ª parte)

O Mundial de Futebol 2010.
Nos telejornais e nas conversas de rua este é o tema recorrente, a par da crise económica. Nos últimos dias falou-se bastante do Tiago, e da possibilidade deste estar gravemente lesionado (o que não se confirmou), do Ricardo Carvalho, e se está a cem por cento, e do Pepe, e se conseguirá ou não reabilitar-se da sua lesão a tempo de jogar ainda no Mundial.
Foi por este motivo que me lembrei de vos falar dos atletas de alta competição e das lesões que eles sofrem ou podem sofrer durante a sua carreira.

Os atletas de alta competição são aquelas pessoas que se dedicam a uma actividade desportiva em competições nacionais e internacionais e que demonstraram, através das classificações e resultados obtidos, que têm mérito. O estatuto de alta competição obedece a normas específicas, estabelecidas pelo Instituto do Desporto de Portugal.
Contudo ao falar do tema de hoje quero referir-me às lesões que acontecem não só aos atletas com estatuto de alta competição, mas a todos aqueles que se dedicam à prática de algum desporto e que estão sujeitos a um grau de exigência e rigor mais elevados do que a simples prática de desporto por lazer ou só ao fim-de-semana, fazendo desse desporto profissão ou não.

A prática desportiva traz associada o risco de lesão. Quanto mais exigente for a prática desse desporto, maiores serão as probabilidades de ocorrer uma lesão e piores serão as consequências da mesma.
No entanto, mesmo ao nível da prática desportiva amadora, as lesões acontecem. Por isso, apesar dos comprovados benefícios para a saúde física e mental, há que ter determinados cuidados para prevenir as lesões e saber como proceder quando estas acontecem. Não se esqueça que deve praticar desporto, mas de forma segura e sem prejudicar a sua saúde.

A lesão no desporto define-se como “o problema médico resultante da participação num evento atlético com restrição consequente da participação de pelo menos 1 dia após a sua ocorrência”.
Por outras palavras, uma lesão acontece quando há uma alteração de alguma estrutura do corpo durante a prática do desporto, o atleta necessita de tratamento e terá de deixar de realizar a actividade física que habitualmente pratica por um menor ou maior período de tempo.

Voltando aos exemplos da selecção nacional de futebol, no jogo particular de Portugal frente a Cabo Verde o jogador Tiago estava em campo há cerca de dez minutos quando teve de sair porque começou a sentir dor na coxa esquerda. Logo se suspeitou de uma lesão mais grave que o afastaria dos jogos do mundial, mas ao realizar uma ressonância magnética verificou-se que a condição física do jogador não era preocupante.
Já no caso do Ricardo Carvalho, no dia 24 de Março ao minuto 37 do jogo Portsmouth-Chelsea, ao disputar um lance com o adversário sofreu uma lesão nos ligamentos do tornozelo direito. Esteve afastado da competição cerca de um mês.
Por fim, a 12 de Dezembro do ano passado, Pepe disputava um jogo pelo Real Madrid quando teve de abandonar o relvado com muitas dores no joelho direito após uma queda na sequência de uma jogada. A lesão nos ligamentos do joelho direito conduziu o jogador a uma cirurgia e a um processo de recuperação que se prolonga há quase seis meses.
Três exemplos de diversos tipos de lesões, em vários locais do corpo e com diferentes períodos de recuperação.

Peças sobresselentes (4ª parte)

Já no caso das próteses externas, como a prótese de mão ou de membro inferior (para as quais se referem a maioria dos exemplos que vou dar a seguir), as medidas que devem ser tomadas para que haja uma boa adaptação ao uso de prótese e para prevenir complicações são:
1. Após a amputação (no caso em que esta tenha ocorrido)
• falar com os enfermeiros ou com o seu médico se sentir muita dor ou outro sintoma anormal e esclarecer as suas dúvidas com eles;
• 24 horas após a amputação começar a movimentar o membro ao qual amputaram uma parte para activar a circulação e enquanto estiver deitado ficar na posição que lhe for indicada pelos profissionais de saúde, pois essa será a indicada para o seu caso clínico (por exemplo, ficar deitado num colchão firme, não usar almofadas sob o membro amputado);
• realizar Fisioterapia – o fisioterapeuta intervirá para que o membro a que foi amputada uma parte e o contralateral (o membro do outro lado) fiquem em boas condições físicas, o coto (extremidade do membro amputado) esteja preparado para receber uma prótese e a pessoa seja capaz de realizar várias actividades do dia-a-dia de forma autónoma, mesmo sem prótese. Para tal irá orientar a pessoa que foi amputada sobre o que deve ou não pode fazer (posicionamento, actividades, auto-massagem e dessensibilização do coto, …) e realizar trabalho de fortalecimento, de alongamento, de manutenção/ ganho de amplitudes articulares, de propriocepção, de equilíbrio, de coordenação, de correcção postural, de redução do edema e da dor fantasma (dor na parte do corpo que foi amputada, apesar desta já não estar lá), de enfaixamento do coto, etc;
2. Antes de colocar a prótese
• estar em condições físicas para poder adaptar-se a uma prótese, sobretudo o coto, o qual não poderá estar inchado (edema) e deverá ter uma boa forma e apresentar uma boa cicatrização;
• ter em atenção ao escolher a prótese que esta deve ser adequada para a pessoa que a vai utilizar e para as funções que esta tem de desempenhar. Por exemplo, se o indivíduo necessita da prótese de mão para executar algum trabalho manual especifico há vários tipos de punhos, se pratica algum tipo de corrida a prótese deverá ser adequada às exigências dessa actividade, se o uso da prótese é apenas por questões estéticas esta deverá poderá ser mais ou menos semelhante ao seu tipo de pele, etc. O peso da prótese também é importante, pois se a utilizar durante muitas horas diárias ou utilizar muito o membro onde está aplicada a prótese deverá optar por modelos mais leves. O custo adicional de uma prótese mais sofisticada poderá trazer muitos benefícios a nível funcional, por isso na hora de escolher deverá pesar bem os prós e os contras da “peça” que vai comprar;
3. Após colocar a prótese
• ficar satisfeito com a sua utilização, pois é muito importante que a prótese seja fácil de colocar e remover, confortável durante a utilização, resistente, funcional e estética;
• realizar Fisioterapia – com o principal objectivo de dar o máximo de independência à pessoa a quem foi colocada uma prótese para que esta possa voltar a ter uma vida activa e participativa na sociedade. Para isso, nesta fase, irá proceder-se ao treino do uso da prótese (colocar e retirar, encaixe do coto na prótese, etc), ao apoio com a prótese sobre uma superfície (com transferência de peso parcial e total), ao treino de equilíbrio, à realização de vários exercícios, ao treino de actividades da vida diária (passar da posição sentada para a de pé, comer, andar, subir e descer escadas…) usando a prótese e utilizando um auxiliar de marcha se necessário, etc;
• procurar o ortoprotésico ou dirigir-se à casa ortopédica onde foi confeccionada a sua prótese se houver necessidade de fazer modificações à “peça”, como por exemplo, ajustar o encaixe;
4. Ao longo do tempo
• realizar Fisioterapia – o tempo que for necessário à adaptação;
• ter determinados cuidados – ter um peso saudável para não sobrecarregar a prótese, não usar saltos altos, não transportar pesos, evitar situações que possam conduzir a quedas, fazer a manutenção da prótese e substitui-la por uma nova quando for necessário, etc;
• praticar exercício físico – temos o exemplo dos Jogos Paraolímpicos, competição de alto nível em que vemos o caso de muitas pessoas amputadas a vários níveis que praticam desportos como a natação, várias modalidades de corrida, salto em comprimento, ciclismo ou ainda outros desportos como o windsurf ou o triatlo.

A reabilitação, quer tenham sido colocadas próteses internas ou externas, é um processo contínuo, para que o utilizador dessa “peça sobresselente” possa ter uma vida o mais próximo possível da que iria ter se a “peça fosse a de origem”, fazendo as suas actividades habituais de forma independente e eficaz.
É também um processo global, porque não é apenas o membro onde foi colocada a prótese que é atingido, antes todo o corpo pode ser afectado, com alterações da postura, sobrecarga de peso e esforço do membro contralateral, etc.

Não tenha receio das “peças sobresselentes”. Informe-se!

Peças sobresselentes (3ª parte)

Para que tudo corra da melhor maneira, quando é necessário colocar “peças sobresselentes” é preciso tomar determinadas medidas antes e após a colocação das mesmas. O acompanhamento médico, fisioterapêutico e ortoprotésico é essencial, variando a intervenção de cada profissional se for colocada uma prótese interna ou uma prótese externa.
No caso das “peças” colocadas no interior do organismo, ou seja, as próteses internas como a prótese do joelho ou a prótese da anca (para as quais se referem a maioria dos exemplos que vou dar a seguir), de um modo geral, deve proceder da seguinte forma:
1. Antes da cirurgia
• seguir as recomendações médicas – como parar de tomar determinados medicamentos, levar para o hospital um auxiliar de marcha (um andarilho, umas canadianas), etc;
• preparar-se para o pós-cirúrgico – “arrumar” a sua casa de forma a não ter obstáculos (tapetes, fios eléctricos, excesso de móveis) no caminho e se necessário colocar corrimões e barras de apoio (nas escadas, junto à sanita, à banheira, à cama), pôr a jeito uma cadeira alta para se sentar e colocar à mão as coisas que vai precisar quando voltar para casa (um livro para se entreter, lenços de papel, uma garrafa de água), informar-se sobre os contactos de serviços de saúde de assistência ao domicilio (enfermeiros, fisioterapeutas) para o caso de ser necessário, arranjar alguém (uma vizinha, um familiar, uma empregada doméstica) com disponibilidade para a/o ajudar em casa e com as actividades da vida diária (tomar banho, lavar o chão, fazer a comida,…), etc;
• realizar Fisioterapia – para que o fisioterapeuta possa ensinar-lhe exercícios que deverá fazer logo após a colocação da prótese, informá-lo sobre os movimentos e as posturas que devem ser evitados após a cirurgia e, se for necessário, intervir sobretudo para melhorar a força dos músculos que têm acção sobre a articulação que vai ser intervencionada;
2. Após a cirurgia e ainda no período de internamento
• tomar a medicação que lhe for indicada, falar com os enfermeiros ou com o seu médico se sentir muita dor ou outro sintoma anormal e esclarecer as suas dúvidas com os profissionais de saúde;
• proceder ao levante (passar da posição de deitado para de pé) nas 24 horas após a cirurgia e enquanto estiver deitado permanecer na posição que lhe for recomendada (por exemplo, não se deve deitar para o lado onde foi colocada a prótese na anca nem rodar o pé desse lado para dentro), sem batotas;
• realizar Fisioterapia – para que comece o mais cedo possível o seu plano de tratamento e desta forma evitar retracções, enfraquecimento muscular e limitações das amplitudes de movimento, com consequentes limitações funcionais. Nesta fase o fisioterapeuta irá fazer mobilização, massagem, ajudá-lo a realizar alguns exercícios, informá-lo sobre os cuidados a ter quando for para casa, esclarecer as suas dúvidas e ensinar-lhe qual é a melhor forma para estar sentado, deitado (os cuidados com o posicionamento da zona que foi operada) e para se mexer (levantar-se da cama, andar com auxiliar de marcha, usar a sanita, tomar banho com ajuda, etc);
3. Após a alta
• contactar o seu médico ou dirigir-se às urgências se achar que se passa algo de errado consigo, por exemplo, se ficar com febre, se sentir muita dor, se ouvir um estalo, se ficar muito inchada a zona em que foi operado ou se a cicatriz da cirurgia estiver muito vermelha, quente, com pus ou sangue;
• ter os cuidados necessários para evitar quedas – usar calçado anti-derrapante, não andar sobre pisos escorregadios ou molhados, ter cuidado com a saída e entrada da banheira/polibã, evitar passar por cima de tapetes que possam deslizar, que sejam muito grossos ou estejam engelhados (o ideal é não ter tapetes em casa), etc;
• realizar Fisioterapia – no seu domicilio, numa clínica ou no hospital, seja onde for, é necessário que continue a ser seguido pelo fisioterapeuta para que o seu corpo se habitue à nova “peça” e para que esta possa fazer com que o mesmo funcione da melhor forma possível. Para além do que já era feito, o tratamento vai-se tornando cada vez mais intensivo, aumentando o número de repetições dos exercícios e a sua exigência, incrementando as amplitudes de movimento e a resistência para a realização de força, realizando treino de actividades da vida diária (subir e descer escadas, entrar e sair do carro, tomar banho sozinho, treino de marcha com ou sem auxiliar – ex: canadianas), etc;
4. Ao longo do tempo
• realizar Fisioterapia – o tempo que for necessário, pois cada caso é um caso e há situações em que a recuperação é mais rápida e outros em que é mais lenta;
• evitar determinadas situações – exagerar no número de vezes que faz uma tarefa (como subir escadas) ou no peso dos objectos que levanta ou empurra e ficar em determinadas posições ou fazer movimentos prejudiciais (ajoelhar-se, sentar-se em sofás baixos,…);
• ter um estilo de vida saudável – como qualquer outra pessoa deverá ter um peso adequado, manter-se activo, fazer desporto (nunca desportos de alto impacto, mas sim actividades mais calmas como caminhar, danças de salão, hidroginástica) consultando sempre o seu médico antes de iniciar a modalidade que pretende;
• referir que tem uma prótese – quando for a outras consultas médicas, se tiver outro problema de saúde, se for fazer outros tratamentos de Fisioterapia, etc;
• não se esquecer que a prótese também se estraga – o tempo que a sua prótese durará dependerá de vários factores, como a exigência das actividades que faz e o seu peso corporal, pois a sua articulação “sobresselente” também se desgasta, tal como a que “já vinha de origem”.

Peças sobresselentes (2ª parte)

Continuando a falar das “peças”, ou seja das próteses, estas podem ser colocadas no interior do nosso organismo ou exteriormente.
Por exemplo, a prótese no joelho é colocada no interior do corpo humano, ficando coberta por várias estruturas, nomeadamente a pele.
No caso de uma prótese de mão toda a “peça” fica visível, uma vez que substitui a mão que foi amputada ou que não existia, sendo a prótese aplicada sobre uma parte do corpo da pessoa (neste exemplo, o antebraço) para que fique unida a esta.

Vou agora tentar explicar, de uma forma muito simples e sintética, como se processa a colocação de uma prótese.
Nos casos em que a prótese é interna, nomeadamente nas situações em que ocorreu uma fractura ou existia artrose já em estado avançado, o processo é semelhante. As zonas danificadas são retiradas, a prótese (total ou parcial) é fixa nos ossos, são ajustadas todas as estruturas (ex: ligamentos, tendões) que passam à volta da articulação e depois de testar o bom funcionamento de todas elas o procedimento fica concluído.
Nos casos em que a prótese é externa, a forma de actuar é diferente. Após a amputação, tem de se preparar o coto da pessoa para receber a prótese, tirar as medidas necessárias para construir a “peça”, escolher o modelo que se adaptar às necessidades daquele caso (estilo de vida mais ou menos activo, prótese mais estética ou funcional, etc.) e só então colocar a prótese.
Em ambos os casos é necessário proceder a um trabalho específico antes e após a colocação da prótese, de modo a permitir ao adaptar-se à sua nova “peça”.

Uma prótese é sempre colocada com um propósito determinado, nomeadamente:
• aliviar dores;
• corrigir deformações articulares;
• aumentar a mobilidade do indivíduo a nível das articulações;
• ganhar independência e aumento de funcionalidade na realização de várias actividades da vida diária (andar, comer, ir à casa de banho, levantar-se da cama, escrever, pentear-se, correr, etc.);
• melhorar a estética, por exemplo, para não se notar que falta uma perna ou uma mão;
• etc.

A aplicação de uma prótese poderá ter complicações.
Nas próteses internas, essas complicações são comuns a qualquer outro tipo de cirurgia, como as infecções, a libertação de coágulos de sangue e as pneumonias.
Nas próteses externas poderá acontecer que o coto não se adapte à prótese, que o utilizador não se habitue ao funcionamento da nova “peça”, etc.
A maioria destes problemas podem ser evitados com o correcto acompanhamento antes e após a colocação das próteses. Mas disso falarei na próxima semana.

Nas situações em que a colocação de uma prótese está em dúvida, até porque as pessoas muitas vezes sentem receio destas “peças”, têm sempre de ser devidamente ponderados os prós e os contras. Só se estiver bem informado é que poderá tomar uma decisão acertada. Aconselhe-se junto do seu médico, do seu fisioterapeuta e até com outras pessoas que já colocaram próteses.

Peças sobresselentes (1ª parte)

Costumo brincar com os meus utentes e dizer-lhes que devíamos vir de origem já com “peças sobresselentes”.
Assim, quando partíssemos alguma “peça”, ou se ela deixasse de funcionar correctamente, tínhamos outra para colocar no seu lugar.
Antigamente, e não só nas histórias de piratas, já era utilizada a perna de pau para substituir a ausência da perna de carne e osso.
Hoje em dia já existem “peças sobresselentes” mais sofisticadas e funcionais. Na actualidade a tecnologia e a medicina colocam ao dispor das pessoas materiais que quase substituem as nossas “peças de origem”. Próteses de aço, alumínio, titânio, plástico, etc.
As próteses são peças/aparelhos que substituem uma parte do corpo humano e desempenham as funções que essa parte do organismo tinha, repondo a morfologia e a biomecânica.
Um exemplo muito comum são as próteses dentárias. Como os dentes caíram ou tiveram de ser extraídos por alguma razão, no seu lugar é colocada a prótese dentária para que a pessoa consiga mastigar os alimentos.

Existem vários casos em que poderá ser necessário colocar uma prótese, nomeadamente:
- por fractura (por exemplo do colo do fémur e do colo do úmero): em situações em que há um desvio significativo dos fragmentos ósseos, em que o prognóstico de consolidação da fractura é uma posição não desejável para o correcto funcionamento daquela zona, se a reconstrução dos ossos for impossível e em casos de osteoporose;
- por artrose (sendo a mais comum a prótese do joelho): em casos já avançados em que as superfícies ósseas da articulação já estão muito danificadas, quando existe uma considerável perda de mobilidade e há uma grande deformação, desalinhamento e instabilidade da articulação.
- por amputação, sendo retirada parte de um membro (perna, antebraço, mão) através de uma cirurgia para salvar a outra parte desse membro ou até mesmo a vida da pessoa. Embora seja um acto muito impactante, o doente deverá ter sempre em mente que se não fosse feito poderia morrer ou poderia ficar incapacitado para o resto da sua vida. A amputação poderá ser necessária por causa das consequências de um acidente (de viação, de trabalho, doméstico) com esmagamento ósseo ou perda de parte de um membro, de uma infecção, da presença de um tumor, de necrose por doença vascular ou por queimadura (a quente ou a frio), etc.
- por deficiência congénita, casos em que os bebés nascem com a ausência de algum membro ou com uma malformação, por exemplo um dos membros superiores não se desenvolveu normalmente no útero da mãe e não cresceu como seria espectável. Isto poderá ocorrer por causas que afectaram a mãe durante a gravidez, por exemplo, ter estado exposta a radiação, ter tomado medicamentos contra-indicados nesta fase, ter tido alguma doença específica como a rubéola, ter sofrido algum traumatismo, etc. Ou por outros factores como uma quantidade de liquido amniótico insuficiente, por herança genética, por mutação dos genes, etc.
- etc.

Doença de Parkinson (3ª parte)

(Formas de combater a doença – continuação)
• Fisioterapia – complementa o tratamento medicamentoso no combate à doença de Parkinson, que de todas as doenças neurológicas degenerativas é a que tem um maior impacto negativo na funcionalidade do indivíduo. Os principais objectivos do fisioterapeuta serão maximizar e manter as capacidades funcionais que o doente tem, procurar evitar que surjam complicações secundárias à doença e ainda proporcionar uma boa qualidade de vida ao doente. Para tal irá actuar sobretudo nos problemas da postura, do equilíbrio, da marcha, da perca de força muscular, da pouca resistência ao esforço, da dificuldade em realizar várias actividades da vida diária (AVD’s), etc, recorrendo a métodos e técnicas específicas da Fisioterapia.
Claro que a intervenção dependerá do estado em que a doença se encontre. Por exemplo, numa fase inicial os tratamentos em grupo são bastante benéficos. Juntando numa mesma sala doentes com características semelhantes poderão realizar-se vários exercícios para melhorar/manter a coordenação, a sensibilidade, a mobilidade, o equilíbrio, a força muscular, a função respiratória, a resistência ao cansaço, etc. Em estados mais avançados o tratamento individual é indispensável, podendo ser necessário realizá-lo no domicílio da pessoa, recorrendo à reeducação proprioceptiva, à massagem, à mobilização, à cinesioterapia respiratória, aos alongamentos, a técnicas de fortalecimento, ao treino de marcha e de AVD’s, etc.
Será também muito importante o ensino/a informação transmitido ao doente e à sua família/ cuidadores. Transmitir-lhes como podem lidar com a nova situação (condição física e psicológica do doente), pequenas mudanças que podem ser feitas na casa da pessoa para facilitar a vida a toda a gente, exercícios que o doente deve fazer, o que se deve evitar e fazer para prevenir complicações (quedas, infecções respiratórias), formas para “dar a volta” quando não consegue fazer alguma coisa, assim aumentando ao máximo possível a autonomia do doente e facilitando a tarefa dos cuidadores.
Quanto mais intensiva for a reabilitação maior a probabilidade de ocorrerem melhorias, pois apesar das células cerebrais não se regenerarem, o cérebro tem a capacidade de se reorganizar. Explicando isto de uma forma simplificada, as zonas do cérebro em redor da zona lesionada começam a assumir, em parte, a função dessas células que morreram. Esta capacidade cerebral é alvo de vários estudos científicos com o intuito de futuramente desenvolver novas formas de intervenção terapêutica, mais específicas.

Agora que se fala tanto do Papa Bento XVI, por causa da sua visita a Portugal, veja-se o exemplo do seu antecessor. O Papa João Paulo II sofria da doença de Parkinson há já muitos anos, e mesmo tendo esta patologia continuou a assumir o seu cargo e a deslocar-se a outros países. É muito importante não parar e continuar a viver.

Em Portugal existe a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, criada a 14 de Abril de 1984 para apoiar e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Tem sede em Lisboa e delegações espalhadas por vários pontos do país e ilhas.
Entre as várias actividades desta associação destacam-se: a publicação de uma revista trimestral, a “Parkinson”, que é distribuída gratuitamente a todos os associados; o aconselhamento e orientação dos associados; a realização de encontros para promover o convívio e partilha de informação entre doentes, familiares e profissionais de saúde; e o ensino dos cuidadores, efectuando cursos coordenados por profissionais de saúde.
Se quiser saber mais vá a www.parkinson.pt ou ligue 213850042, o número da sede da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson em Lisboa. Para entrar em contacto com a delegação desta associação em Castelo Branco ligue para 963071333 ou envie um e-mail para imslourenço@gmail.com.

Doença de Parkinson (2ª parte)

Na doença de Parkinson é muito importante que o diagnóstico seja feito o mais cedo possível. Para isso há que reconhecer os sintomas, de que falei na semana passada, e consultar o médico, preferencialmente um neurologista.
Este irá tentar determinar se a pessoa sofre de Parkinson ou de outra doença, pois há mais situações com características patológicas muito semelhantes. Como? Através da história clínica, dos sintomas, dos resultados da realização de alguns testes (reflexos, força muscular,…), etc. Poderá ainda ser necessário realizar outros exames como o electroencefalograma, o TAC ou a ressonância magnética, para excluir a possibilidade de sofrer de outra patologia cerebral.

Só com um correcto diagnóstico se poderá optar pelos tratamentos mais adequados a cada caso.
Não existe, até ao momento, uma forma de curar os doentes de Parkinson, porque as células do cérebro não se renovam.
No entanto, é possível atrasar a evolução da doença, diminuir os sintomas, melhorar a qualidade de vida dos doentes e prevenir possíveis complicações (como as infecções respiratórias, as infecções urinárias, as sequelas de quedas, etc). Na maioria dos casos são estas complicações as responsáveis pela morte dos doentes e não a doença em si, pois esta, apesar de progressiva, não é letal.

A doença de Parkinson tem sido alvo de muita investigação, para tentar descobrir mais, quer sobre as suas causas, quer sobre novas formas de tratamento e melhoria das já existentes.
No Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, por exemplo, têm vindo a decorrer estudos sobre esta patologia. Os investigadores conseguiram perceber como é que a disfunção de uma estrutura que existe nas células (a mitocôndria) contribuía para a morte das mesmas e começaram agora a testar uma nova terapêutica que poderia bloquear a progressão da doença de Parkinson.

Actualmente, existem já várias formas para combater esta doença, nomeadamente:
• Medicamentos – existem variadíssimos fármacos disponíveis para tratar e controlar os sintomas. Um medicamento muito eficaz é a levodopa, descoberta na década de 70, mas todos os anos surgem novos fármacos, mais ou menos eficazes de acordo com o caso de cada doente, para outros sintomas, etc. É ainda muito importante ter em atenção que existem certos medicamentos que podem fazer com que o doente piore, sendo muito importante que não tome outros remédios, seja para que problema for, sem antes consultar o seu médico;
• Cirurgia – em determinados casos específicos (pelas características do doente, por a doença já estar numa fase muito avançada, etc) poderá optar-se pela intervenção cirúrgica para controlar alguns sintomas, como os tremores ou a rigidez. Estas cirurgias efectuam-se, por exemplo, no Hospital de São João no Porto, o local onde já foram tratados o maior número de doentes em Portugal;
• Psicoterapia – o doente apercebe-se da deterioração da sua condição física, pois mentalmente está bem, o que conduz muitas vezes à depressão e à revolta. Para além disso, a evolução da patologia conduz muitas vezes a estados de demência. Por estes motivos poderá ser necessária a intervenção de um psicoterapeuta (psiquiatra, psicólogo) para orientar sobre a medicação que poderá ajudar e para aconselhar o doente e a sua família/cuidadores;
(continua)

Doença de Parkinson (1ª parte)

No domingo passado assinalou-se o Dia Mundial da Doença de Parkinson.
O dia 11 de Abril é o escolhido por ser aquele em que nasceu o Dr. James Parkinson, o médico inglês que, em 1817, descreveu esta doença pela primeira vez e lhe deu o seu nome.
Em Portugal decorreram várias actividades, entre elas, o encontro nacional em Fátima, com a presença de doentes, familiares, amigos e profissionais de saúde.

A doença de Parkinson é uma patologia do sistema nervoso central. As células do sistema nervoso (neurónios), localizadas numa zona específica do cérebro, deixam de funcionar correctamente ou morrem. Assim, devido à destruição celular naquela área, deixa de ser produzida a quantidade necessária de dopamina, uma substância que permite que se façam alguns tipos de movimentos.

Esta patologia afecta cerca de 20 mil portugueses, diagnosticando-se aproximadamente 1800 novos casos por ano. Com o aumento da esperança média de vida a tendência aponta para que haja um aumento do número de pessoas com doença de Parkinson. Afecta pessoas de ambos os sexos, em percentagens aproximadamente iguais, e normalmente a partir dos sessenta anos de idade. No entanto, também surgem casos em indivíduos a partir dos quarenta anos, sendo raro acontecer antes disso.

A doença de Parkinson é até hoje uma patologia de causa desconhecida. Não se percebe porque é que a deterioração dos neurónios ocorre (quais os mecanismos que a provocam), nem porque é que essa deterioração acontece em determinadas pessoas. Não há evidências de que seja por razões hereditárias, apenas se sabe que a idade contribui para o aparecimento da doença.

Os sintomas da doença de Parkinson vão-se manifestando de forma progressiva, começando por vezes com um simples tremor que vai piorando. Os principais sinais são a rigidez muscular, o tremor de repouso e a lentificação dos movimentos. Por regra, numa fase inicial, afecta os membros superiores e normalmente só de um lado do corpo.

O que sente o doente e o que observam as outras pessoas?
Notam que:
• as mãos (mas também os pés, pernas, braços) tremem quando está parado sem fazer nada e esses tremores diminuem quando está a fazer alguma actividade;
• a expressão facial se altera, diminuindo a mímica facial (olhar fixo,…);
• fala de uma forma monocórdica, com um volume mais baixo que o normal, sendo frequente que escorra saliva pelos cantos da boca;
• a pele fica mais oleosa, especialmente a da cara;
• começa a mexer-se menos e com menor agilidade, tendo também mais dificuldade para iniciar o movimento (referem que “parece que está congelado”,” que não consegue arrancar”);
• tem cada vez mais dificuldade em andar, com menos equilíbrio, dando passos pequeninos, arrastando os pés e por vezes andando mais rápido para evitar cair;
• há tendência para a depressão, maior ansiedade e demência (falta de iniciativa para fazer coisas, dificuldade em resolver problemas quotidianos e em decorar informação, etc.);
• etc.

Artrite Reumatóide (3ª parte)

Há várias medidas que podem ser tomadas para facilitar as actividades do dia a dia e para não sobrecarregar as articulações, protegendo-as, especialmente nas fases em que os doentes sentem mais dor.
Aqui ficam alguns conselhos:
• em casa – torne a sua casa um local onde se possa mexer facilmente (não coloque tapetes no chão, retire “bibelôs” que atrapalhem a passagem, escolha portas largas onde se possa passar bem, etc); substitua as torneiras e manípulos das portas arredondados por modelos em forma de alavanca e mais fáceis de abrir; prefira janelas de correr e fáceis de abrir e fechar (leves, que deslizem bem pelas calhas, etc); coloque corrimões em zonas potencialmente escorregadias ou de fácil perca de equilíbrio; a cama e o assento das cadeiras e da sanita deverão estar a uma altura do chão que corresponda aproximadamente aos centímetros que medir entre o seu joelho e o calcanhar (por ex: pode adquirir adaptadores para colocar nos pés da cama para a elevar ou um tampo de sanita mais alto);
• relativamente ao que usa – quanto ao vestuário, os fechos e os botões da roupa tornam-se difíceis de manejar, devido à dor sentida quando o faz ou à deformação que as mãos possam ter, sendo preferível optar por roupas mais práticas e fáceis de vestir como calças com elástico na cintura, blusas fáceis de vestir (largas, com elasticidade, t-shirt, etc.) ou vestidos; quanto ao calçado poderá optar por calçado sem atacadores, com velcros ou “só de enfiar o pé”, ortopédico ou não, mas que seja acima de tudo confortável e adaptado ao formato do seu pé;
• para a realização de tarefas – escolha sempre equipamentos (telemóvel, telecomando, teclado do computador) com teclas grandes, mais fáceis de usar; em períodos de maior dor ou em casos mais avançados utilize utensílios (copos, pratos, jarro, garrafas) de plástico em vez de vidro ou cerâmica, pois são mais leves; saiba que existem muitos tipos de adaptações para todo o género de objectos e para o ajudar em várias actividades, como por exemplo, para ajudar a abotoar uma camisa, a calçar meias, a abrir frascos ou a agarrar pequenos objectos, para tornar um lápis/caneta mais fácil de ser agarrado enquanto está a escrever (aumentando o seu diâmetro), suportes para lhe manter um livro/jornal aberto, etc.

Ontem assinalou-se o Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatóide. Desde 2000 que todos os anos se comemora a 5 de Abril, com o objectivo de chamar a atenção para a Artrite Reumatóide, para o número de doentes existente no nosso país, para as consequências desta patologia e todos os problemas que os doentes enfrentam no seu quotidiano.
Saiba ainda que existe a ANDAR, a Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide. Esta associação foi criada em 1995 e desde então procura dar apoio aos doentes com artrite reumatóide e informar e esclarecer as dúvidas dos doentes e da população em geral.
A sua sede está localizada em Lisboa e poderá entrar em contacto com a mesma através dos números de telefone 21 7937361 e 21 7986376/7 ou consultando o site www.andar-reuma.pt.

Artrite Reumatóide (2ª parte)

A artrite reumatóide é uma doença crónica, pois não tem cura, mas tem tratamento.
Para melhorar a sua qualidade de vida, as pessoas com artrite reumatóide devem procurar a ajuda de profissionais de saúde e ter determinados cuidados consigo mesmos.
O médico de família, o reumatologista e o fisioterapeuta podem informá-lo sobre esta doença, responder às suas dúvidas, aconselhá-lo sobre os vários tratamentos existentes, dar-lhe dicas para lidar com a patologia, etc.
Quanto mais cedo começar a tratar-se melhores serão os resultados e menor será a progressão da patologia.

Existem várias formas para “combater” este problema de saúde:
• o tratamento farmacológico – poderão ser receitados vários tipos de medicamentos (constantemente surgem novos remédios) para tratar os sintomas da artrite reumatóide, para prevenir que hajam outras complicações, etc.;
• o descanso – em determinadas situações é recomendado o repouso, normalmente quando a doença está numa fase muito activa e a pessoa sente muita dor;
• a Fisioterapia – especialmente depois da inflamação articular estar controlada e tendo como principais objectivos prevenir a deformação das articulações, aumentar a mobilidade e fortalecer os músculos em redor das articulações. Além do tratamento, o fisioterapeuta poderá ainda ensinar-lhe alguns exercícios simples;
• a cirurgia – pode ser necessário recorrer à colocação de próteses articulares ou operar por causa de tendões que deixaram de conseguir manter a estabilidade da articulação, etc;
• a alimentação – deve seguir uma dieta equilibrada para evitar o excesso de peso, que irá causar uma sobrecarga prejudicial às articulação. Para além disso, pensa-se que a ingestão de certos alimentos influencia positiva ou negativamente a artrite reumatóide, melhorando ou piorando os sintomas do doente. Por exemplo, alimentos ricos em ómega 3 (peixes), em cálcio e em proteínas são recomendados;
• a actividade física – ao realizar exercício físico o doente terá benefícios em termos musculares, ósseos, de flexibilidade, cardio-respiratórios e é claro a nível psicológico e social. Mas antes de pensar nisso o doente deverá sempre aconselhar-se com o fisioterapeuta ou com o médico, que lhe recomendarão as actividades físicas mais adequadas (exercício físico moderado, por exemplo hidroterapia).

Sendo esta uma patologia de causa desconhecida e com manifestações muito variadas de pessoa para pessoa, nem todos os tratamentos poderão ser necessários ou funcionarão de igual forma para todos os pacientes.
Para além do tratamento é muito importante uma outra questão. O apoio e compreensão da família e das pessoas que rodeiam o doente são fundamentais. E ao invés a preocupação e protecção exageradas são prejudiciais. É por isso importante que a família, os amigos, os colegas de trabalho, etc, saibam que a pessoa sofre de artrite reumatóide e compreendam esta patologia, os sintomas e as imitações que dela advêm.

Artrite Reumatóide (1ª parte)

A Artrite Reumatóide é uma doença inflamatória auto-imune que afecta principalmente as articulações.
Por outras palavras, é uma inflamação das articulações por causa de um mau funcionamento dos anti-corpos do nosso organismo. A acção normal destes é proteger o nosso corpo de organismos estranhos, como vírus e bactérias, mas neste caso os anti-corpos atacam o próprio corpo.
Para além das articulações, a artrite reumatóide pode ainda afectar vários órgãos do organismo, como o coração e os pulmões.

Não se sabe o que causa o aparecimento da artrite reumatóide. Até ao momento a sua origem é desconhecida. Pensa-se que uma pessoa passe a sofrer de artrite reumatóide devido à conjugação de vários factores em simultâneo, tais como factores hereditários (predisposição genética) e ambientais (clima, tabagismo, infecções, etc), que irão também influenciar a forma como se vai manifestar a patologia e como esta evoluirá ao longo do tempo.

Sabia que a artrite reumatóide afecta:
- cerca de seis milhões de pessoas em todo o mundo;
- homens e mulheres, na proporção de três mulheres por cada homem;
- pessoas de todas as idades, inclusive crianças e jovens, sendo mais incidente nos adultos jovens (a partir dos 30 anos) e em mulheres na pós-menopausa (entre os 50 e os 70 anos).

Como já foi referido, a artrite reumatóide afecta principalmente as articulações (a articulação é a zona onde dois ossos se articulam, permitindo que estes se unam entre si e que haja movimento), começando na maioria dos casos por se manifestar nas mãos. Pode atingir várias articulações (joelhos, pés, ombros, coluna, cotovelos, etc.), com mais ou menos consequências e normalmente simetricamente, ou seja, igual do lado direito e do lado esquerdo do corpo.
Esta é uma doença bastante debilitante, como se perceberá pelos sinais e sintomas que a ela estão associados.
Nas articulações afectadas os doentes, de acordo com o caso e com a gravidade da artrite, sentem/notam:
- dor;
- calor/ aumento da temperatura na zona;
- rubor/ vermelhidão;
- edema/ inchaço;
- rigidez articular pela manhã/ dificuldade em dobrar e esticar as articulações;
- limitação de movimentos;
- deformação progressiva ao longo dos anos;
- e nódulos subcutâneos.

É muito importante que seja feito o diagnóstico correcto e o mais cedo possível, por isso se suspeitar que algo de errado se passa com as suas articulações consulte um médico reumatologista.
Não há forma de prevenir nem de curar a artrite reumatóide, contudo pode evitar o agravamento da situação clínica. Mas disso falarei na próxima semana.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Um ano depois....

Já lá vai um ano desde que comecei a escrever para o Povo da Beira.
Como o tempo passa depressa!
Todas as semanas tento falar sobre um tema de uma forma simples e resumida, para que todos os leitores possam ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua saúde e o que podem fazer para a melhorar.
Procuro explicar algumas patologias mais comuns entre os portugueses, os seus sinais de alerta e alguns dos factores de risco.
Para além disso tento aconselhar sobre o que se deve ou não fazer e que medidas se podem tomar para prevenir que determinadas situações aconteçam.
Nunca esquecendo, é claro, o papel do fisioterapeuta e como ele pode ajudar em variadíssimas situações, uma vez que é esta a minha área de intervenção.
Costumo ainda destacar alguns dias comemorativos assinalados no calendário português e dar a conhecer algumas associações e o papel que desempenham na sociedade.
Já foram vários os temas abordados. Por exemplo, a osteoartrose do joelho, o AVC, a Fisioterapia, a osteoporose, as tendinites, a postura corporal mais correcta em várias situações, etc.
Mas nem sempre é fácil simplificar determinados temas nem colocar por palavras aquilo que quero transmitir. Muito mais haveria para dizer e para aprofundar.
Nunca se deve esquecer que cada caso é um caso. Eu escrevo sobre a generalidade, por isso não se deve basear no que lê para, por exemplo, se diagnosticar a si mesmo. Deve antes ler o que escrevo como uma forma de alerta, pois se estiver informado mais facilmente:
• irá colocar a mão na consciência e começará a ter hábitos de vida mais saudáveis para prevenir o aparecimento de algumas doenças;
• identificará em si, e nos outros, sinais que o levem a pensar que poderá ter determinada patologia e recorrerá, atempadamente, à ajuda dos profissionais de saúde para que estes façam o correcto diagnóstico e tratamento se necessário;
• recorrerá a associações que o poderão encaminhar e ajudar;
• se preocupará com a sua saúde, fazendo rastreios, análises periódicas, consultando o seu médico de família, não deixando arrastar problemas sem procurar tratamento, etc.
Pelo menos é esse o meu objectivo.
À vossa disposição tenho o meu endereço de correio electrónico fisiocb@sapo.pt. Podem colocar-me as vossas dúvidas, questões e críticas e ainda sugestões de temas que gostariam de ver abordados. Mesmo que não saibam trabalhar com um computador ou com a internet poderão sempre pedir a um familiar que o faça por vocês!
Por fim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que lêem semanalmente os textos que escrevo. Obrigado pela vossa atenção!
Estou a ter alguns problemas com a publicação das mensagens... a configuração do texto não aparece como eu escrevo! A cor e tipo de letra saem alteradas. Desculpem!

Incontinência Urinária (4ª parte)

Como referi, na semana passada, em casos de incontinência urinária poderá ser necessário fazer Fisioterapia.

Se for esse o caso deve procurar um fisioterapeuta com experiência na área da incontinência urinária.

Ele irá ensinar-lhe como executar exercícios específicos para o seu caso, irá verificar se os faz correctamente e poderá ainda utilizar formas de biofeedback e a electro-estimulação durante o tratamento.

No entanto, há exercícios simples que toda a gente pode fazer. As pessoas que já tenham incontinência podem fortalecer os músculos do pavimento pélvico e aqueles que não têm incontinência podem, também com recurso a estes exercícios, prevenir problemas futuros.

Mas antes de passar aos exercícios, é necessário que todos saibam exactamente quais são os músculos de que estou a falar. Os músculos do pavimento pélvico são aqueles que envolvem a uretra, a vagina (nas senhoras) e o ânus e que permitem controlar a abertura ou fecho destes orifícios. Têm ainda como função suportar a uretra, a bexiga, o útero (nas senhoras) e o recto. Pode dizer-se, de uma forma mais simples, que são os músculos da base do nosso tronco.

Para poder exercitar correctamente estes músculos é preciso saber exactamente como é sentida a sua contracção.

Nas mulheres, os músculos do pavimento pélvico podem ser facilmente sentidos quando está na casa de banho a urinar e interrompe o fluxo de urina.

Já no caso dos homens, a melhor forma de sentir estes músculos é contrair o ânus, como quando tem vontade de libertar gases e impede.

São esses os músculos que não podem perder força, pois se isso acontecer mais facilmente irá ter perdas de urina. Se forem exercitados não perderão a sua capacidade de contrair (prevenir) e poderão ganhar as capacidades que já tinham perdido (reabilitar).

Para exercitar os músculos do pavimento pélvico faça estes exercícios:

· contraia durante um ou dois segundos (que vai ser o tempo que inicialmente conseguirá contrair), descanse um ou dois segundos (tempo de descanso igual ao tempo de contracção) e volte a contrair um ou dois segundos. Ao longo do tempo vai conseguir contrair durante mais segundos (10 segundos é óptimo) e vai conseguir fazer mais repetições (10 vezes é suficiente);

· contraia com toda a força e descontraia logo a seguir e assim sucessivamente até 10 repetições. Estas contracções e estes relaxamentos devem ser feitos rapidamente e com força.

Como vê são exercícios muito simples que não custam dinheiro, em que não precisa de suar e que vão demorar apenas alguns minutinhos a fazer.

Pode efectuá-los em várias posições, começando pelas mais fáceis (deitado, sentado) e progredindo para as mais difíceis (de pé, agachado).

Estas contracções podem ser feitas em qualquer lugar e a qualquer altura do dia, até porque só você é que saberá que as está a fazer, mais ninguém se aperceberá. Por exemplo, quando está sentado a trabalhar ao computador, quando conduz para o trabalho, quando se deita antes de adormecer, enquanto vê televisão, quando está a passar a ferro, etc.

Não se esqueça de contrair quando mais necessita, ou seja, quando tiver de espirrar, tossir, fazer um esforço, etc.

Deve realizar estes exercícios várias vezes por dia, incluindo-os na sua rotina diária (como o lavar dos dentes), e continuar a fazê-los ao longo do tempo, mesmo que já se sinta melhor.

Até porque os efeitos deste treino não são imediatos, só começando a notar melhorias após 2 a 4 meses de prática e tendo realmente bons resultados passados 6 meses. Nem são tão pouco permanentes, pois se parar de fazer os exercícios os músculos começarão de novo a enfraquecer.

Este tipo de exercícios traz mais benefícios para os casos de incontinência de esforço, no entanto, ajudam também nalguns casos de incontinência de urgência.

Cada caso é um caso e para alguns os exercícios serão suficientes para resolver o problema, para outros os sintomas de incontinência diminuirão apesar de não desaparecerem.

Não se esqueça que toda a gente deveria fazer treino dos músculos do pavimento pélvico, independentemente de ser homem ou mulher, de ser novo ou ser velho (nunca é tarde para começar) e de ter incontinência ou não (pois a prevenção é muito importante).

No próximo dia 14 de Março assinala-se o Dia da Incontinência Urinária.

O objectivo deste dia é informar e sensibilizar a população e os profissionais de saúde. Este ano pretende-se chamar a atenção para a existência de tratamentos fáceis e eficazes. Deixe de lado a vergonha!

Se quiser saber mais visite o site da Associação Portuguesa de Urologia em www.apurologia.pt.

Incontinência Urinária (3ª parte)

Os problemas urinários podem trazer complicações e mau estar no seu dia-a-dia. Além dos problemas de higiene há ainda que ter em conta os problemas sociais que a perda de urina pode trazer.

Muitas pessoas vivem constantemente preocupadas em encontrar uma casa de banho ou desistem de fazer determinadas actividades com receio de que os outros notem que elas sofrem de incontinência urinária.

Mas muito pode ser feito. E o principal é começar por se tratar e informar. Só assim poderá aprender a lidar com a incontinência urinária, a melhorar a sua qualidade de vida e até, nalguns casos, a resolver esse problema.

Existem algumas alterações no estilo de vida que devem ser feitas relativamente:

· às bebidas que ingere – deve beber moderadamente, nem muito nem pouco (um bom indicador da quantidade adequada é a cor da urina, que deverá ser da cor da palha clara), pois deixar de beber líquidos não é solução, pelo contrário, poderá conduzir a irritações da bexiga (tornando-a mais activa) e a infecções urinárias. Não deverá abusar do café e das bebidas com gás ou alcoólicas, pois estas são diuréticas, fazendo com que tenha mais vontade de urinar;

· ao peso corporal – o excesso de peso conduz muitas vezes à incontinência urinária, devido ao aumento da pressão abdominal, logo é importante que tenha um peso saudável;

· ao tabagismo – o problema de ser fumador quando se tem incontinência urinária é que as pessoas que têm esse hábito costumam tossir mais e a tosse provoca uma maior pressão sobre a bexiga, com as consequentes perdas de urina;

· e à ida à casa de banho – especialmente se a pessoa tem algum tipo de dificuldade de mobilidade, como a falta de destreza manual ou problemas em se deslocar. Começando pela roupa que veste, que não deve ser complicada de despir, devendo evitar, por exemplo, roupas como os macacões ou fechos difíceis de abrir. Já quanto à casa de banho propriamente dita, veja se é fácil chegar à mesma, se não pode fazer algumas alterações para que seja facilmente usada por toda a gente da casa, como desviar objectos que ficam no caminho até à mesma, colocar barras laterais de apoio na sanita, elevar o assento da mesma, etc.;

Para além destes conselhos, existem ainda outras medidas que poderão ser tomadas:

· usar a protecção mais adequada a cada situação e de forma correcta (no caso das pessoas acamadas mudar frequentemente), pois se se sentir confortável isso irá melhorar a sua qualidade de vida e a sua confiança e reduzirá a ansiedade de andar sempre preocupada com a perda de urina;

· em casos específicos poderá ser necessário, por exemplo, colocar um cateter para esvaziamento da urina, tomar medicamentos específicos ou até recorrer à cirurgia. Mas estas são questões que só o seu médico especialista em uroginecologia ou urologia (especialidades que se ocupam das perturbações e doenças do aparelho urinário do sexo feminino e do sexo masculino, respectivamente) lhe poderá esclarecer;

· treinar a bexiga, nos casos de incontinência de urgência, tentando aguentar mais quantidade de urina durante mais tempo, para diminuir o número de idas à casa de banho, e assim, progressivamente, educar a bexiga e aumentar o espaço de tempo entre micções;

· e ainda Fisioterapia e exercícios simples, de que falarei na próxima semana.