sexta-feira, 26 de março de 2010

Um ano depois....

Já lá vai um ano desde que comecei a escrever para o Povo da Beira.
Como o tempo passa depressa!
Todas as semanas tento falar sobre um tema de uma forma simples e resumida, para que todos os leitores possam ficar a conhecer um pouco mais sobre a sua saúde e o que podem fazer para a melhorar.
Procuro explicar algumas patologias mais comuns entre os portugueses, os seus sinais de alerta e alguns dos factores de risco.
Para além disso tento aconselhar sobre o que se deve ou não fazer e que medidas se podem tomar para prevenir que determinadas situações aconteçam.
Nunca esquecendo, é claro, o papel do fisioterapeuta e como ele pode ajudar em variadíssimas situações, uma vez que é esta a minha área de intervenção.
Costumo ainda destacar alguns dias comemorativos assinalados no calendário português e dar a conhecer algumas associações e o papel que desempenham na sociedade.
Já foram vários os temas abordados. Por exemplo, a osteoartrose do joelho, o AVC, a Fisioterapia, a osteoporose, as tendinites, a postura corporal mais correcta em várias situações, etc.
Mas nem sempre é fácil simplificar determinados temas nem colocar por palavras aquilo que quero transmitir. Muito mais haveria para dizer e para aprofundar.
Nunca se deve esquecer que cada caso é um caso. Eu escrevo sobre a generalidade, por isso não se deve basear no que lê para, por exemplo, se diagnosticar a si mesmo. Deve antes ler o que escrevo como uma forma de alerta, pois se estiver informado mais facilmente:
• irá colocar a mão na consciência e começará a ter hábitos de vida mais saudáveis para prevenir o aparecimento de algumas doenças;
• identificará em si, e nos outros, sinais que o levem a pensar que poderá ter determinada patologia e recorrerá, atempadamente, à ajuda dos profissionais de saúde para que estes façam o correcto diagnóstico e tratamento se necessário;
• recorrerá a associações que o poderão encaminhar e ajudar;
• se preocupará com a sua saúde, fazendo rastreios, análises periódicas, consultando o seu médico de família, não deixando arrastar problemas sem procurar tratamento, etc.
Pelo menos é esse o meu objectivo.
À vossa disposição tenho o meu endereço de correio electrónico fisiocb@sapo.pt. Podem colocar-me as vossas dúvidas, questões e críticas e ainda sugestões de temas que gostariam de ver abordados. Mesmo que não saibam trabalhar com um computador ou com a internet poderão sempre pedir a um familiar que o faça por vocês!
Por fim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que lêem semanalmente os textos que escrevo. Obrigado pela vossa atenção!
Estou a ter alguns problemas com a publicação das mensagens... a configuração do texto não aparece como eu escrevo! A cor e tipo de letra saem alteradas. Desculpem!

Incontinência Urinária (4ª parte)

Como referi, na semana passada, em casos de incontinência urinária poderá ser necessário fazer Fisioterapia.

Se for esse o caso deve procurar um fisioterapeuta com experiência na área da incontinência urinária.

Ele irá ensinar-lhe como executar exercícios específicos para o seu caso, irá verificar se os faz correctamente e poderá ainda utilizar formas de biofeedback e a electro-estimulação durante o tratamento.

No entanto, há exercícios simples que toda a gente pode fazer. As pessoas que já tenham incontinência podem fortalecer os músculos do pavimento pélvico e aqueles que não têm incontinência podem, também com recurso a estes exercícios, prevenir problemas futuros.

Mas antes de passar aos exercícios, é necessário que todos saibam exactamente quais são os músculos de que estou a falar. Os músculos do pavimento pélvico são aqueles que envolvem a uretra, a vagina (nas senhoras) e o ânus e que permitem controlar a abertura ou fecho destes orifícios. Têm ainda como função suportar a uretra, a bexiga, o útero (nas senhoras) e o recto. Pode dizer-se, de uma forma mais simples, que são os músculos da base do nosso tronco.

Para poder exercitar correctamente estes músculos é preciso saber exactamente como é sentida a sua contracção.

Nas mulheres, os músculos do pavimento pélvico podem ser facilmente sentidos quando está na casa de banho a urinar e interrompe o fluxo de urina.

Já no caso dos homens, a melhor forma de sentir estes músculos é contrair o ânus, como quando tem vontade de libertar gases e impede.

São esses os músculos que não podem perder força, pois se isso acontecer mais facilmente irá ter perdas de urina. Se forem exercitados não perderão a sua capacidade de contrair (prevenir) e poderão ganhar as capacidades que já tinham perdido (reabilitar).

Para exercitar os músculos do pavimento pélvico faça estes exercícios:

· contraia durante um ou dois segundos (que vai ser o tempo que inicialmente conseguirá contrair), descanse um ou dois segundos (tempo de descanso igual ao tempo de contracção) e volte a contrair um ou dois segundos. Ao longo do tempo vai conseguir contrair durante mais segundos (10 segundos é óptimo) e vai conseguir fazer mais repetições (10 vezes é suficiente);

· contraia com toda a força e descontraia logo a seguir e assim sucessivamente até 10 repetições. Estas contracções e estes relaxamentos devem ser feitos rapidamente e com força.

Como vê são exercícios muito simples que não custam dinheiro, em que não precisa de suar e que vão demorar apenas alguns minutinhos a fazer.

Pode efectuá-los em várias posições, começando pelas mais fáceis (deitado, sentado) e progredindo para as mais difíceis (de pé, agachado).

Estas contracções podem ser feitas em qualquer lugar e a qualquer altura do dia, até porque só você é que saberá que as está a fazer, mais ninguém se aperceberá. Por exemplo, quando está sentado a trabalhar ao computador, quando conduz para o trabalho, quando se deita antes de adormecer, enquanto vê televisão, quando está a passar a ferro, etc.

Não se esqueça de contrair quando mais necessita, ou seja, quando tiver de espirrar, tossir, fazer um esforço, etc.

Deve realizar estes exercícios várias vezes por dia, incluindo-os na sua rotina diária (como o lavar dos dentes), e continuar a fazê-los ao longo do tempo, mesmo que já se sinta melhor.

Até porque os efeitos deste treino não são imediatos, só começando a notar melhorias após 2 a 4 meses de prática e tendo realmente bons resultados passados 6 meses. Nem são tão pouco permanentes, pois se parar de fazer os exercícios os músculos começarão de novo a enfraquecer.

Este tipo de exercícios traz mais benefícios para os casos de incontinência de esforço, no entanto, ajudam também nalguns casos de incontinência de urgência.

Cada caso é um caso e para alguns os exercícios serão suficientes para resolver o problema, para outros os sintomas de incontinência diminuirão apesar de não desaparecerem.

Não se esqueça que toda a gente deveria fazer treino dos músculos do pavimento pélvico, independentemente de ser homem ou mulher, de ser novo ou ser velho (nunca é tarde para começar) e de ter incontinência ou não (pois a prevenção é muito importante).

No próximo dia 14 de Março assinala-se o Dia da Incontinência Urinária.

O objectivo deste dia é informar e sensibilizar a população e os profissionais de saúde. Este ano pretende-se chamar a atenção para a existência de tratamentos fáceis e eficazes. Deixe de lado a vergonha!

Se quiser saber mais visite o site da Associação Portuguesa de Urologia em www.apurologia.pt.

Incontinência Urinária (3ª parte)

Os problemas urinários podem trazer complicações e mau estar no seu dia-a-dia. Além dos problemas de higiene há ainda que ter em conta os problemas sociais que a perda de urina pode trazer.

Muitas pessoas vivem constantemente preocupadas em encontrar uma casa de banho ou desistem de fazer determinadas actividades com receio de que os outros notem que elas sofrem de incontinência urinária.

Mas muito pode ser feito. E o principal é começar por se tratar e informar. Só assim poderá aprender a lidar com a incontinência urinária, a melhorar a sua qualidade de vida e até, nalguns casos, a resolver esse problema.

Existem algumas alterações no estilo de vida que devem ser feitas relativamente:

· às bebidas que ingere – deve beber moderadamente, nem muito nem pouco (um bom indicador da quantidade adequada é a cor da urina, que deverá ser da cor da palha clara), pois deixar de beber líquidos não é solução, pelo contrário, poderá conduzir a irritações da bexiga (tornando-a mais activa) e a infecções urinárias. Não deverá abusar do café e das bebidas com gás ou alcoólicas, pois estas são diuréticas, fazendo com que tenha mais vontade de urinar;

· ao peso corporal – o excesso de peso conduz muitas vezes à incontinência urinária, devido ao aumento da pressão abdominal, logo é importante que tenha um peso saudável;

· ao tabagismo – o problema de ser fumador quando se tem incontinência urinária é que as pessoas que têm esse hábito costumam tossir mais e a tosse provoca uma maior pressão sobre a bexiga, com as consequentes perdas de urina;

· e à ida à casa de banho – especialmente se a pessoa tem algum tipo de dificuldade de mobilidade, como a falta de destreza manual ou problemas em se deslocar. Começando pela roupa que veste, que não deve ser complicada de despir, devendo evitar, por exemplo, roupas como os macacões ou fechos difíceis de abrir. Já quanto à casa de banho propriamente dita, veja se é fácil chegar à mesma, se não pode fazer algumas alterações para que seja facilmente usada por toda a gente da casa, como desviar objectos que ficam no caminho até à mesma, colocar barras laterais de apoio na sanita, elevar o assento da mesma, etc.;

Para além destes conselhos, existem ainda outras medidas que poderão ser tomadas:

· usar a protecção mais adequada a cada situação e de forma correcta (no caso das pessoas acamadas mudar frequentemente), pois se se sentir confortável isso irá melhorar a sua qualidade de vida e a sua confiança e reduzirá a ansiedade de andar sempre preocupada com a perda de urina;

· em casos específicos poderá ser necessário, por exemplo, colocar um cateter para esvaziamento da urina, tomar medicamentos específicos ou até recorrer à cirurgia. Mas estas são questões que só o seu médico especialista em uroginecologia ou urologia (especialidades que se ocupam das perturbações e doenças do aparelho urinário do sexo feminino e do sexo masculino, respectivamente) lhe poderá esclarecer;

· treinar a bexiga, nos casos de incontinência de urgência, tentando aguentar mais quantidade de urina durante mais tempo, para diminuir o número de idas à casa de banho, e assim, progressivamente, educar a bexiga e aumentar o espaço de tempo entre micções;

· e ainda Fisioterapia e exercícios simples, de que falarei na próxima semana.

Incontinência Urinária (2ª parte)

Existem vários tipos de incontinência urinária, de acordo com a forma como a perda de urina acontece e o que está na sua origem. Assim, de acordo com as características da incontinência urinária, existem:

· a incontinência de esforço, resultante da perda de força dos músculos do pavimento pélvico, o que faz com que estes não contraiam o suficiente para impedir que a urina saia quando a pessoa espirra, ri, tosse ou pega em algo pesado, sendo o tipo mais comum entre as senhoras;

· a incontinência de urgência, que se pensa que ocorra por causa de sinais errados que os músculos em redor da bexiga enviam para o cérebro informando-o erradamente de que esta está cheia, fazendo com que a pessoa tenha vontade de urinar muitas vezes (para além do normal de 4 a 8 vezes por dia e tendo até de se levantar várias vezes durante a noite) e de repente, libertando urina involuntariamente;

· a incontinência mista, em que acontece tanto a incontinência de esforço como a incontinência de urgência, sendo sempre mais evidentes os sintomas de um dos dois tipos;

· a incontinência funcional, que não é mais do que não conseguir chegar à casa-de-banho para esvaziar a bexiga, devido a algum tipo de problema físico ou mental, perdendo a urina antes de chegar à sanita/urinol;

· e ainda, as disfunções neurológicas da bexiga, originadas por doenças, como por exemplo, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla ou espinha bífida, e ainda por lesões cerebrais de pós-traumatismos, que vão alterar o correcto funcionamento da comunicação entre a bexiga e o cérebro, fazendo com que o indivíduo não consiga ter controlo sobre a sua bexiga.

Se suspeitar que sofre de algum destes tipos de incontinência deve procurar consultar o seu médico. Não tenha vergonha, não pense que é só a si que acontece. E por mais embaraçoso que lhe pareça falar sobre a sua incontinência, pense que adiar o problema só piorará a sua situação e a sua saúde.

Quanto mais cedo procurar ajuda mais fácil será resolver o seu problema de incontinência, ou pelo menos arranjar uma forma de melhorar a sua qualidade de vida.

Dessa forma poderá ser feito um correcto diagnóstico, despistando outros possíveis problemas como obstipação, tumores, infecções urinárias, problemas na próstata, etc. Na avaliação o médico irá analisar possíveis lesões na cabeça, na coluna vertebral, etc, a sua predisposição para a incontinência (gravidez, prática desportiva, historia familiar, etc), os seus sinais e sintomas, pedindo-lhe ainda que realize exames, como por exemplo análises à urina.

Desta forma poderá esclarecer as dúvidas que tiver, tratar o seu problema da forma mais adequada e melhorar a nível emocional, físico e social.