terça-feira, 22 de junho de 2010

A lesão no desportista de alta competição (4ª parte)

Nas últimas semanas falou-se bastante do caso do Nani. Tinha sido convocado para o Mundial 2010, mas uma lesão na clavícula levou a que fosse afastado da competição. À chegada a Portugal terá dito “numa semana já estou bom”, tendo vindo depois a explicar-se melhor dizendo “penso que estarei bom numa semana mas para fazer a minha vida normal do dia-a-dia, não para competir”.
A vontade de competir faz com que os atletas estejam sempre muito ansiosos com a sua recuperação e ao mínimo sinal de melhoria têm logo tendência para acharem que já estão bons. Mas quando as lesões ocorrem há que proceder correctamente para que o desportista recupere a sua forma física o melhor e mais rapidamente possível, com o mínimo de complicações secundárias à lesão e sequelas, sem recaídas ou constantes repetições da mesma lesão e de modo a que o atleta fique com o máximo de capacidades para praticar a actividade física que fazia antes da lesão.

Vejam-se algumas especificidades na recuperação das lesões nos desportistas de alta competição:
• são muito publicitadas – o tempo que a recuperação de um atleta de alta competição demora é muito falado nos jornais desportivos e televisão, levando muitas vezes pessoas que não são atletas a questionarem-se “Porque é que a recuperação do atleta demorou três meses e a minha quatro se a lesão era a mesma?”. No entanto, há que lembrar que o nome da lesão pode ser o mesmo (tendinite, rotura de ligamentos,…) mas a lesão não ocorrer exactamente nas mesmas condições, por exemplo, a gravidade da lesão não ser a mesma e a condição física não ser igual (normalmente o atleta tem uma melhor aptidão física o que facilita a recuperação), e o tipo e a intensidade dos tratamentos de Fisioterapia não ser igual (melhores condições a nível de aparelhos, mais tempo para realizar o tratamento e ter acompanhamento fisioterapêutico diariamente traduzem-se em termos de resultados). A recuperação dos atletas é também utilizada como uma forma de publicidade, é o caso de aparelhos de Fisioterapia (lembro-me de utilizarem o nome de Mantorras para publicitar um aparelho de movimentação continua passiva para tratamento no pós-cirúrgico ao joelho);
• o doping – numa situação de lesão é fácil cair na tentação de utilizar substâncias que , por exemplo, potenciem a força muscular ou que escondam a dor. A utilização destas substâncias proibidas (esteróides anabolizantes, anfetaminas, morfina, haxixe, etc) a nível do desporto é punida, afastando o atleta da competição por alguns anos ou para sempre. Para além da questão de ser eticamente reprovável, pois colocam os desportistas em situação de desigualdade, estas substâncias são nocivas para a saúde da pessoa a médio e longo prazo, comportando vários malefícios para o organismo humano (esterilidade, tumor no fígado, aumento da agressividade,…);
• as pressões – quando um atleta está lesionado fica sujeito a pressões por parte dos adeptos e dos dirigentes para regressar o mais depressa possível à competição, especialmente se for um atleta muito bom no desporto que pratica. Para além desta pressão existe ainda a vontade do desportista em regressar aos treinos e à competição, o que leva o atleta a pressionar os profissionais de saúde e o treinador para voltar, enganando-os muitas vezes ocultando a dor ou outras dificuldades que sentem.

A Fisioterapia tem um papel muito importante na boa recuperação dos desportistas de alta competição que sofrem uma lesão. O acompanhamento do atleta por parte do fisioterapeuta é essencial para que o profissional de saúde possa intervir logo no momento da lesão, promover uma boa recuperação e reabilitação, evitar complicações da lesão e que esta se torne recorrente.
Para tal o fisioterapeuta irá utilizar várias técnicas e métodos específicos da sua área, como a massagem, a mobilização, os alongamentos, a crioterapia, a hidroterapia, a electroterapia, o treino proprioceptivo, vários tipos de exercícios, entre outros, e recorrer ao uso de ortóteses (joelheira, punho elástico, cotoveleira,…) e outro tipo de materiais (bandas neuromusculares, ligaduras funcionais) para facilitar o retorno à actividade física e prevenir que ocorra de novo a mesma lesão.
O retorno à prática desportiva deve ser sempre feito com cautela e sobre supervisão e um bom trabalho de uma equipa mustidisciplinar constituída pelo treinador, pelo médico e pelo fisioterapeuta.
“Devagar se vai ao longe”, por isso é sempre preferível uma recuperação eficaz que afaste o desportista da alta competição durante dois meses do que uma recuperação que o traga de volta à prática desportiva passado um mês e que o obrigue a ter de parar por mais um mês daí a uns tempos porque voltou a sofrer de novo a mesma lesão.

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