segunda-feira, 7 de junho de 2010

Peças sobresselentes (4ª parte)

Já no caso das próteses externas, como a prótese de mão ou de membro inferior (para as quais se referem a maioria dos exemplos que vou dar a seguir), as medidas que devem ser tomadas para que haja uma boa adaptação ao uso de prótese e para prevenir complicações são:
1. Após a amputação (no caso em que esta tenha ocorrido)
• falar com os enfermeiros ou com o seu médico se sentir muita dor ou outro sintoma anormal e esclarecer as suas dúvidas com eles;
• 24 horas após a amputação começar a movimentar o membro ao qual amputaram uma parte para activar a circulação e enquanto estiver deitado ficar na posição que lhe for indicada pelos profissionais de saúde, pois essa será a indicada para o seu caso clínico (por exemplo, ficar deitado num colchão firme, não usar almofadas sob o membro amputado);
• realizar Fisioterapia – o fisioterapeuta intervirá para que o membro a que foi amputada uma parte e o contralateral (o membro do outro lado) fiquem em boas condições físicas, o coto (extremidade do membro amputado) esteja preparado para receber uma prótese e a pessoa seja capaz de realizar várias actividades do dia-a-dia de forma autónoma, mesmo sem prótese. Para tal irá orientar a pessoa que foi amputada sobre o que deve ou não pode fazer (posicionamento, actividades, auto-massagem e dessensibilização do coto, …) e realizar trabalho de fortalecimento, de alongamento, de manutenção/ ganho de amplitudes articulares, de propriocepção, de equilíbrio, de coordenação, de correcção postural, de redução do edema e da dor fantasma (dor na parte do corpo que foi amputada, apesar desta já não estar lá), de enfaixamento do coto, etc;
2. Antes de colocar a prótese
• estar em condições físicas para poder adaptar-se a uma prótese, sobretudo o coto, o qual não poderá estar inchado (edema) e deverá ter uma boa forma e apresentar uma boa cicatrização;
• ter em atenção ao escolher a prótese que esta deve ser adequada para a pessoa que a vai utilizar e para as funções que esta tem de desempenhar. Por exemplo, se o indivíduo necessita da prótese de mão para executar algum trabalho manual especifico há vários tipos de punhos, se pratica algum tipo de corrida a prótese deverá ser adequada às exigências dessa actividade, se o uso da prótese é apenas por questões estéticas esta deverá poderá ser mais ou menos semelhante ao seu tipo de pele, etc. O peso da prótese também é importante, pois se a utilizar durante muitas horas diárias ou utilizar muito o membro onde está aplicada a prótese deverá optar por modelos mais leves. O custo adicional de uma prótese mais sofisticada poderá trazer muitos benefícios a nível funcional, por isso na hora de escolher deverá pesar bem os prós e os contras da “peça” que vai comprar;
3. Após colocar a prótese
• ficar satisfeito com a sua utilização, pois é muito importante que a prótese seja fácil de colocar e remover, confortável durante a utilização, resistente, funcional e estética;
• realizar Fisioterapia – com o principal objectivo de dar o máximo de independência à pessoa a quem foi colocada uma prótese para que esta possa voltar a ter uma vida activa e participativa na sociedade. Para isso, nesta fase, irá proceder-se ao treino do uso da prótese (colocar e retirar, encaixe do coto na prótese, etc), ao apoio com a prótese sobre uma superfície (com transferência de peso parcial e total), ao treino de equilíbrio, à realização de vários exercícios, ao treino de actividades da vida diária (passar da posição sentada para a de pé, comer, andar, subir e descer escadas…) usando a prótese e utilizando um auxiliar de marcha se necessário, etc;
• procurar o ortoprotésico ou dirigir-se à casa ortopédica onde foi confeccionada a sua prótese se houver necessidade de fazer modificações à “peça”, como por exemplo, ajustar o encaixe;
4. Ao longo do tempo
• realizar Fisioterapia – o tempo que for necessário à adaptação;
• ter determinados cuidados – ter um peso saudável para não sobrecarregar a prótese, não usar saltos altos, não transportar pesos, evitar situações que possam conduzir a quedas, fazer a manutenção da prótese e substitui-la por uma nova quando for necessário, etc;
• praticar exercício físico – temos o exemplo dos Jogos Paraolímpicos, competição de alto nível em que vemos o caso de muitas pessoas amputadas a vários níveis que praticam desportos como a natação, várias modalidades de corrida, salto em comprimento, ciclismo ou ainda outros desportos como o windsurf ou o triatlo.

A reabilitação, quer tenham sido colocadas próteses internas ou externas, é um processo contínuo, para que o utilizador dessa “peça sobresselente” possa ter uma vida o mais próximo possível da que iria ter se a “peça fosse a de origem”, fazendo as suas actividades habituais de forma independente e eficaz.
É também um processo global, porque não é apenas o membro onde foi colocada a prótese que é atingido, antes todo o corpo pode ser afectado, com alterações da postura, sobrecarga de peso e esforço do membro contralateral, etc.

Não tenha receio das “peças sobresselentes”. Informe-se!

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